Antes de voltar à rotina de exercícios físicos, quem passou pela Covid-19 deve buscar uma avaliação médica e, principalmente, cardiológica. Isso porque a infecção do coronavírus não afeta apenas o pulmão, mas também o coração — e as complicações deixadas pela doença podem aumentar os riscos de problemas no órgão.
De acordo com Marcelo Bichels Leitão, cardiologista especialista em Medicina do Exercício e do Esporte, a sequela mais preocupante é a miocardite, uma inflamação da musculatura do coração. Embora afete menos de 5% dos indivíduos que tiveram Covid-19, segundo estima o especialista, isso não é sinônimo de falta de perigo.
“São situações importantes porque o coração é um órgão vital. Um comprometimento gera repercussões graves à saúde, e pode colocar a pessoa em risco de vida”, explica Leitão, que também é diretor científico da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte.
Se o indivíduo desenvolve uma miocardite aguda, por exemplo, os exercícios físicos podem ser um gatilho para aumentar o risco de arritmia.
“Há um risco também de intensificar a reação inflamatória, e evoluir para um quadro de insuficiência cardíaca. Além disso, pode intensificar a isquemia, pois fazer exercício aumenta a necessidade de oxigênio no músculo cardíaco, para bombear mais sangue”, alerta o especialista.
Pessoas que tiveram quadros graves de Covid-19 estão em maior risco de isquemia, ou a falta de oferta de sangue e oxigênio para o músculo cardíaco devido à formação de coágulos dentro dos vasos sanguíneos. Tanto nesse caso quanto na miocardite, o paciente pode ter como sequela a formação de fibrose, que leva a quadros de arritmia e insuficiência cardíaca.
Tipo de exercício importa?
Os riscos valem tanto para quem treina intensamente como para os que costumam apenas caminhar, pois a intensidade é relativa à condição de cada indivíduo, segundo Leitão.
“Um atleta corre em uma velocidade de 15 km/h e uma pessoa faz caminhada a 8 km/h, por exemplo, mas a velocidade talvez represente para ela, que tem um condicionamento menor, o mesmo percentual de esforço que para um atleta”, explica o especialista.
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A recomendação é fazer uma avaliação pré-participação tanto cardiológica como respiratória e muscular.
“Muitas vezes [após a infecção por Covid-19], a pessoa se sente cansada para esforços básicos, mas ela não sabe se é apenas falta de condicionamento ou um comprometimento do pulmão ou do coração. Ela se sente insegura e desiste de fazer atividade física, e o sedentarismo só piora a condição. Por isso, é importante consultar um médico e realizar os exames, para estabelecer os limites de intensidade e volume do exercício”, ressalta Leitão.
Segundo o especialista, se os exames não apresentarem lesões cardíacas, é possível liberar de imediato a volta progressiva às atividades físicas não competitivas. Em casos mais graves, é indicado que se faça uma reavaliação médica depois de 30 dias (para os atletas) ou 60 dias (para quem se exercita de forma recreativa).
*Esse texto foi originalmente publicado pela Agência Einstein.