Anel vaginal: o que é e como funciona este método contraceptivo
Dispositivo flexível é inserido no canal vaginal, liberando hormônios que inibem a ovulação, com eficácia similar a de pílulas orais

De fácil uso, alta taxa de eficácia e efeito reversível. Essas são algumas vantagens do anel vaginal, um método contraceptivo hormonal que bloqueia a ovulação e tem até 99% de eficácia quando usado adequadamente.
O método consiste na colocação de uma argola flexível que libera pequenas doses de hormônios sintéticos no canal vaginal por semanas. Nesse período, os hormônios são absorvidos pela mucosa, inibem a ovulação e alteram desde o muco cervical até a movimentação das tubas uterinas — fatores ajudam a impedir uma gestação.
“Ele tem liberação contínua, com baixa dose estrogênica, e não é metabolizado pelo fígado — ao contrário da pílula. Isso tudo reduz os riscos de efeitos adversos”, afirma Marise Samama, ginecologista e presidente da Associação Mulher, Ciência e Reprodução Humana (AMCR).
Abaixo, entenda como age esse método anticoncepcional, quais as suas vantagens e contraindicações.
Clique aqui para entrar em nosso canal no WhatsAppO que é o anel vaginal?
O anel vaginal é um dispositivo de silicone ou de plástico que, ao ser colocado dentro da vagina, libera hormônios semelhantes ao estrogênio e a progesterona produzidos pelo corpo a fim de bloquear o processo de ovulação e, assim, evitando gravidez.
O desenvolvimento desse produto remonta aos anos 1970, quando cientistas tentavam criar um método contraceptivo hormonal e eficaz que tivesse menos efeitos adversos do que a pílula.
Os estudos clínicos decolaram nos anos 1990 e, em 2001, o primeiro anel vaginal foi aprovado pela Food and Drug Administration (FDA), agência regulatória dos Estados Unidos.
No Brasil, o produto foi liberado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2003 e, desde então, várias opções chegaram às farmácias, mas poucas mulheres optam por esse método.
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Como o anel vaginal funciona?
O dispositivo é um contraceptivo hormonal combinado (CHC), isto é, ele carrega um componente estrogênico (chamado etinilestradiol) e um progestagênico (o etonogestrel).
“Como todos os CHCs, sua principal ação contraceptiva se dá pelo bloqueio da ovulação“, explica Ilza Maria Urbano, presidente da Comissão Nacional Especializada em Anticoncepção da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
Além de inibir a produção de óvulos, o anel vaginal também gera uma série de alterações no aparelho reprodutor que diminuem as chances de engravidar.
“É um método que espessa o muco no canal do colo do útero, dificultando o deslocamento dos espermatozoides; interfere no movimento das tubas uterinas, onde normalmente ocorre a fecundação; e altera a vascularização do endométrio, tecido onde o embrião implanta”, lista Samama.
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Como usar o anel vaginal?
O produto deve ser posicionado, idealmente, no fundo do canal vaginal. “Para isso, o aplicador deve ser introduzido até passar a porção inicial da vagina e, então, o anel deve ser liberado — assim como o absorvente interno“, instrui Urbano. Segundo a ginecologista da Febrasgo, isso previne incômodos ao urinar.
Ainda assim, não há uma regra sobre onde exatamente o anel deve ficar. “Há absorção hormonal em qualquer local da vagina, portanto, estando lá dentro, estará agindo. Mas é importante que seja inserido onde a mulher não sinta desconforto, como se fosse colocar um coletor menstrual“, orienta Samama.
Após aplicado, ele deve ficar na vagina por 21 dias. Nos primeiros sete dias, é recomendado o uso de preservativo para agir como barreira e diminuir ainda mais o risco de gravidez. Passadas as três semanas, a mulher deve retirá-lo e aguardar sete dias para colocar um novo.
Caso o anel saia, ele pode ser lavado com água fria ou morna e reinserido se tiver ficado por até três horas fora do corpo.
Se o tempo sem o anel passar desse limite e isso tiver acontecido nas primeiras duas semanas de uso, a mulher pode lavar e recolocar o anel, mas também deve ser utilizado algum método de barreira (como preservativo ou diafragma) por uma semana.
Se acontecer na terceira semana de uso, é melhor descartar o anel, aguardar uma semana e usar um novo (além de manter o uso de barreira).
O efeito contraceptivo desse método é reversível. A mulher pode engravidar assim que decide suspendê-lo.
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Taxa de eficácia
A eficácia de métodos contraceptivos é calculada de duas formas, uma sobre o risco com uso perfeito (quando a pessoa utiliza o produto exatamente como ele foi projetado) e o típico (como as pessoas usam no geral).
“A taxa de falha no uso perfeito do anel é de 3 gestações em cada 1000 usuárias. Entretanto, no uso típico, a falha aumenta para 90 em cada 1000 mulheres em cada ano de uso”, informa Urbano.
“A eficácia é semelhante ao do contraceptivo oral combinado e do adesivo“, compara Samama. Uma vantagem, porém, é que o anel é colocado apenas uma vez ao mês, o que evita o esquecimento.
Contraindicações
O anel vaginal pode ser utilizado por qualquer mulher que já tenha tido relações sexuais, tenha de 18 a 45 anos e possa tomar contracepção hormonal combinada.
As contraindicações são similares às da pílula oral. “Elas são decorrentes do componente estrogênico”, justifica Urbano. “Mulheres com hipertensão arterial, diabetes descompensada, cânceres hormônio-dependentes (como boa parte dos cânceres de mama) e outras doenças sistêmicas não devem usar anel.”
Aquelas que tem histórico e maior risco de trombose e enxaqueca com aura também devem optar por outros métodos. “Antes do usar o anel vaginal, a mulher deve procurar orientação com um profissional da saúde capacitado”, ressalta.