Se você se encontrou com crianças ou usou qualquer rede social nos últimos meses, é praticamente impossível não ter visto os famosos fidget spinners, ou hand spinners. São brinquedos pequenos e simples — os mais comuns têm três pontas arredondadas e um “suporte” circular para os dedos, ao meio. Você gira o spinner e, aí, tenta equilibrá-lo no dedo.
Apesar de já existir desde os anos 1990, ele só se popularizou pra valer no meio deste ano. Entre outras coisas, sob a alegação de que incrementaria a atenção e a concentração, além de relaxar. Só que uma pesquisa feita no Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas, no interior de São Paulo, refuta esse argumento — ou pelo menos parte dele. De acordo com os estudiosos, o artefato não turbina a concentração de pessoas sem distúrbios psiquiátricos.
No levantamento, foi analisado o desempenho de 34 estudantes de medicina e médicos-residentes, com idade entre 18 e 27 anos, em diferentes testes de raciocínio. Durante os exames, alguns podiam brincar com um. Cabe destacar que nenhum dos voluntários apresentava déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), ansiedade ou outras desordens mentais. Eles tampouco haviam sofrido com atrasos no desenvolvimento e não usavam medicamentos psicoativos.
De acordo com a neuropediatra Maria Augusta Montenegro, professora da universidade e líder da pesquisa, os participantes não demonstraram maior capacidade de atenção. Embora seja necessário realizar uma investigação semelhante com crianças, ela diz ser improvável que o brinquedo as ajude a ficar mais concentradas.
A questão é relevante para pais e professores – já que, semelhante ao que ocorreu na estudo, muitas crianças fazem uso do objeto na escola, e, por vezes, até mesmo no meio das aulas.
O que resta saber: será que se divertir com o spinner no dia a dia poderia ser positivo no longo prazo? Afinal, a pesquisa só verificou o efeito dessa brincadeira ao longo de uma atividade que exigia atenção. E convenhamos: pode ser até irritante ficar mexendo num objeto qualquer enquanto você está respondendo questões difíceis.
E entre pacientes com distúrbios psiquiátricos?
As cientistas envolvidas no trabalho acreditam que o spinner também não vai auxiliar muito essa turma. Contudo, como não estudaram indivíduos com alguma desordem, é impossível fazer qualquer afirmação mais categórica.
Agora, para crianças com autismo que sofrem com o transtorno de movimento estereotipado — que consiste em agitações corporais repetitivas — o equipamento talvez seja uma boa ideia. Isso porque esse sintoma pode ser evitado com outras distrações sensoriais. Logo, ficar equilibrando um spinner no dedo talvez tire o foco de outros gestos.
E, no fim das contas, a principal razão de ser desse brinquedo é entreter os pequenos, não é mesmo?