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Nas tramas da esquizofrenia: a visão de uma escritora com esse diagnóstico

Autora compartilha odisseia em meio à convivência com transtornos mentais no livro "Esquizofrenias Reunidas"

Por Diogo Sponchiato Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
27 jun 2024, 17h30
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Marcada por delírios e alucionações, esquizofrenia acomete mais de 1,6 milhão de brasileiros (Ilustração: Jasmin Merdan/Getty Images)
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Como a americana Esmé Wang já expõe no início de seu primeiro livro publicado no Brasil, é provável que não haja transtorno mental mais associado ao estereótipo da loucura que a esquizofrenia.

Marcada por delírios e alucinações, entre outros sintomas, a doença impõe desafios aos portadores e familiares, sendo que um dos principais é o misto de medo e preconceito que ainda a cerca. A escritora relata e reflete, nos ensaios de Esquizofrenias Reunidas (Carambaia), sua história em busca de um diagnóstico e de paz em meio aos conflitos gerados dentro e fora de sua cabeça, no silêncio do quarto ou no convívio com os outros.

Um percurso árduo, em que a fronteira entre o que é normal e patológico se esgarça e ao longo do qual nem sempre os demônios mentais são exorcizados com um rótulo ou o remédio prescrito.

Esquizofrenias reunidas

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São particularmente duras as páginas que Esmé dedica às suas internações psiquiátricas — solução frequentemente destinada a pacientes esquizofrênicos em crise.

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A obra também traz, costurada às experiências autobiográficas, um mergulho histórico sobre os conceitos de bipolaridade, esquizofrenia e transtorno esquizoafetivo — todos eles diagnósticos com os quais a escritora deparou em algum momento — e convoca outros personagens a dividir suas vivências diante de um transtorno mental.

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(Ilustrações: Laura Luduvig/Veja Saúde)

 

Talvez um dos casos mais chocantes com o qual Esmé e os leitores são confrontados é o do jovem esquizofrênico assassinado pela própria irmã, temerosa de que suas ameaças contra ela e a mãe se tornassem realidade.

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A maioria das histórias, claro, não termina em crime. Há acolhimento, tratamento, reinserção na sociedade. No fim, a grande mensagem do livro reside na jornada de autodescoberta — um trajeto de sofrimento, mas também de sobrevivência.

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Trechos do livro

“A esquizofrenia aterroriza. É o transtorno arquetípico da insanidade. A loucura nos assusta porque somos criaturas que anseiam por estrutura e sentido (…) Ainda assim, a luta contra a entropia parece incrivelmente fútil diante da esquizofrenia, que se esquiva da realidade.”

“Estar diante de todos aqueles médicos me levou de volta à minha primeira internação psiquiátrica, quando um batalhão de psiquiatras, assistentes sociais e psicólogos fazia a ronda diária pela unidade (…) Raras vezes vivenciei um desequilíbrio de poder tão radical e visceral.”

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“Vivenciei uma série de alucinações com garotas pedindo ajuda aos gritos do lado de fora da minha janela. Da primeira vez que isso aconteceu, chamei a polícia (…) Da segunda vez, eu liguei para minha mãe, que me disse para não ligar para a polícia de novo. Ela não disse que as garotas não eram reais, mas era isso que queria dizer.”

“Digo a mim mesma que, se o delírio vier me visitar, ou se as alucinações voltarem a se apoderar dos meus sentidos, talvez eu seja capaz de separar o sentido do insensato. Digo a mim mesma que, se tenho de viver com uma mente escorregadia, também quero saber como atá-la.”

Esmé Weijun Wang é escritora e ensaísta americana de família taiwanesa. Foi incluída na lista de jovens autores promissores da revista Granta, nos Estados Unidos

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