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A efetividade das advertências nos rótulos de alimentos

Especialistas discutem as novas evidências de que incluir alertas nas embalagens de alimentos industrializados pode levar a escolhas mais saudáveis

Por *Laís Amaral e Ana Paula Bortoletto
Atualizado em 28 jul 2020, 19h40 - Publicado em 28 jul 2020, 19h27
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  • Em diversas partes do mundo avança a discussão sobre a importância de modificar o sistema de rótulo dos alimentos, considerado confuso para grande parte das pessoas. Uma das opções que se destaca é o modelo de advertência. Ele apresenta, na frente das embalagens, os ingredientes que estão em excesso no produto e que, se consumidos sem moderação, podem ocasionar prejuízos à saúde – como sódio, gorduras e açúcares. Veja exemplos:

    rótulo Idec
    (Divulgação/SAÚDE é Vital)

    Esse tipo de informação pode influenciar o comportamento do consumidor, já que contribui para escolhas mais saudáveis. Assim, é capaz de auxiliar na prevenção de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes e problemas do coração.

    No Brasil, diferentes estudos foram conduzidos para identificar o melhor modelo de rotulagem nutricional frontal. No início de julho, a divulgação de uma pesquisa realizada pela Embrapa Agroindústria de Alimentos em parceria com a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e com a Universidad de la República do Uruguai reforçou as evidências de que o uso das advertências é de fato a opção mais vantajosa.

    O estudo investigou o efeito de diferentes modelos na percepção do consumidor sobre a saudabilidade de alimentos. Concluiu-se que as advertências – representadas por símbolos como o octógono preto, o triângulo preto e o círculo vermelho, e que transmitem uma mensagem de alerta – facilitam a interpretação das informações do produto.

    Além disso, os sinais pretos desempenharam melhor do que o uso de cores, pois exigiram menos tempo para serem detectados nas embalagens coloridas de muitos produtos alimentícios.

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    Nossa situação atual

    A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) é responsável pela atualização das normas de rotulagem nutricional em vigor. As discussões foram iniciadas em 2014 e, em dezembro de 2019, a entidade encerrou uma consulta pública para que a população opinasse sobre o melhor modelo de rotulagem nutricional a ser adotado no país. Mas, até agora, a análise não foi finalizada.

    O modelo de rotulagem frontal sugerido pela Anvisa é o de uma lupa (veja abaixo), que, apesar de indicar o conteúdo elevado de nutrientes não saudáveis, não permite a repetição da imagem de acordo com o número de nutrientes em excesso. Isso significa que, se um produto apresentar exagero de gorduras saturadas, açúcar e sódio ao mesmo tempo, o consumidor só encontraria uma única lupa. No sistema de advertência, por outro lado, teríamos três símbolos de alerta, um por nutriente.

    Rótulo proposto pela Anvisa

    Acontece que não há evidências científicas que respaldam tecnicamente o modelo sugerido pela Anvisa, pois não foi comprovada a superioridade da lupa em relação à rotulagem de advertência. A proposta é questionada por diversos especialistas, inclusive pelo Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), porque diminui o poder do símbolo.

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    Os resultados da pesquisa da Embrapa corroboram um estudo realizado com o Datafolha em 2019, no qual 82% dos participantes identificaram corretamente o alimento mais saudável a partir das advertências em formato de triângulos. Com a lupa, apenas 62% conseguiram responder de forma correta.

    No Chile, primeiro país a implementar o modelo de advertências, pesquisas apontam mudanças positivas nos hábitos da população. Os consumidores entendem melhor a qualidade nutricional dos produtos alimentícios e houve uma diminuição na compra de itens cheios de açúcar, como bebidas adoçadas e cereais matinais.

    Não dá para esperar

    O enfrentamento da epidemia da obesidade e de doenças crônicas não transmissíveis nunca foi tão urgente. Segundo dados do Ministério da Saúde, 56% da população está com excesso de peso e 7% são diabéticos – fatores que inclusive potencializam os efeitos negativos do novo coronavírus, o atual temor no mundo todo.

    E já é consenso na comunidade científica que o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados está diretamente associado ao ganho de peso e a outros tantos problemas graves de saúde.

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    Embora esses quadros sejam largamente vinculados a comportamentos individuais, a verdade é que estão relacionados, sobretudo, a mudanças no padrão alimentar da população. E elas são fortemente influenciadas por fatores ambientais, como a falta de informações claras nos rótulos e a publicidade de alimentos.

    Considerando o número de pessoas atingidas e a natureza estrutural do problema, não há dúvidas de que essa é uma questão coletiva, e não individual. Por isso, precisa ser enfrentada urgentemente por meio de políticas públicas efetivas. A rotulagem nutricional de advertências é a medida que poderá abrir esse caminho de mudanças.

    *Laís Amaral é doutora em Ciências e pesquisadora do Idec e Ana Paula Bortoletto é doutora em Nutrição e Saúde pública e coordenadora do Programa de Alimentação Saudável e Sustentável do Idec.

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