Neste Janeiro Branco – mês caracterizado pela conscientização sobre a saúde mental – é relevante a discussão de temas que podem proporcionar pequenas mudanças na rotina para promoção do bem-estar.
Em uma sociedade de excessos, onde tudo acontece em ritmo frenético e ansioso, a grande quantidade de tarefas e a desorganização da agenda – ou a falta dela – potencializam o estresse e a ansiedade.
É diante desse cenário que a ideia de desacelerar e aproveitar momentos de ócio e descanso não planejados ganha cada vez mais espaço.
Essa necessidade de “fazer nada” parece ter sido aflorada após quase dois anos de uma pandemia que forçou o trabalho a se misturar com o ambiente de lazer e repouso.
Na busca do bem-estar mental, não só o ócio tem um papel importante. Programar a rotina com horários definidos para comer, dormir, trabalhar, estudar, praticar um esporte ou atividade física, incluindo momentos de pausa, também ajuda na prevenção e no tratamento de transtornos mentais.
Diminuir a necessidade de tomar decisões faz com que a pessoa continue a agir, não somente por vontade ou ânimo, mas por hábito.
É válido destacar que o dia a dia não precisa ser maçante, sem espaço para inovações ou fugas. Pelo contrário: podemos – e devemos – incluir momentos de distração.
Em casos graves de depressão, quando qualquer atividade da rotina parece extremamente complexa e a pessoa se vê incapaz de realizá-la, parte do tratamento inclui, em longo prazo, estabelecer hábitos saudáveis que proporcionem criar uma rotina.
Pausar não é perder tempo, é otimizar tempo
Muitas vezes o ócio é confundido com preguiça e, por isso, desvalorizado e desencorajado. Mas, para o bem-estar mental, é imprescindível quebrar esse paradigma.
A própria ciência já se debruça sobre a relação entre as pausas na rotina e o funcionamento do cérebro.
A literatura científica mostra, por exemplo, que a capacidade de se concentrar em tarefas e executá-las da melhor maneira possível depende de circuitos específicos do cérebro, que basicamente aumentam o processamento das informações daquilo em que se coloca foco.
Por ser algo muito desgastante para o cérebro, não é possível sustentar a atenção em uma tarefa por muito tempo.
Então, para otimizar o uso dos nossos recursos cognitivos e restaurar os circuitos relacionados com foco e concentração, é recomendado fazer uma pausa entre as tarefas.
Isso possibilita ao cérebro reativar memórias recém-adquiridas, auxiliando em sua consolidação. Não à toa, os intervalos são especialmente valiosos em sessões de estudo e trabalho.
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Por isso, permita-se uma pausa. Atividades como meditação e ioga são bem-vindas nesses momentos de esgotamento e falta de foco.
E não se culpe por não ser produtivo o tempo todo, porque, na realidade, isso é fundamental para continuar sendo produtivo em longo prazo.
Caso você acredite estar com a saúde mental prejudicada, não hesite em procurar um profissional da saúde mental.
*Camila Puertas é psicóloga, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psiquiatria e Psicologia Médica da Unifesp e integrante do corpo clínico da Remind.