O termo “resiliência” é usado na física de materiais para descrever a capacidade de um corpo voltar à sua forma original após sofrer uma deformação. Ou seja, resiliência significa elasticidade. Na psicologia, a palavra tem sido usada para descrever nossa capacidade de suportar e nos recuperar de situações difíceis, voltando aos trilhos depois de sofrer adversidades, perdas ou mudanças indesejadas.
Embora seja muito difícil lidar com adversidades, elas nos permitem um tipo particular de crescimento. O psicólogo francês Boris Cyrulnik usou a pérola para ilustrar esse argumento. No interior da concha, existe uma substância chamada nácar. Quando um grão de areia consegue penetrar ali, as células do nácar cobrem o grão para proteger o corpo indefeso da ostra, formando, assim, a pérola.
Uma ostra que não foi violada não é capaz de produzir uma pérola. Essa analogia é uma boa maneira de pensar sobre a resiliência. As pessoas resilientes são capazes de transformar a adversidade em uma experiência de crescimento e de achar novas formas de trabalhar, amar e viver. Em outras palavras, são capazes de construir algo precioso a partir da ferida.
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A boa notícia é que resiliência é uma habilidade emocional que pode ser desenvolvida. Independentemente do ponto de partida, podemos aprender maneiras de pensar e de agir que aumentam nossa capacidade de nos reconstruir e de identificar as oportunidades de crescimento quando as coisas vão mal. Para isso, destaco três práticas:
1. Aceite as adversidades
Primeiramente, é importante reconhecer que é normal termos dificuldades em lidar com perdas e contratempos. Uma razão pela qual temos essas dificuldades é simples: somos humanos! Portanto, aprender a ser mais resiliente não significa nos desumanizar, tentando não sofrer com as adversidades. O sofrimento é parte do processo de nos recuperar. Lamentar a perda nos permite aceitá-la e vivenciar o luto. Só assim podemos perceber que aquela não é a história completa da nossa vida e tentar buscar outras formas de nos fortalecer e nos desenvolver.
2. Evite o otimismo ingênuo
Embora manter um grau elevado de otimismo com relação à nossa capacidade de recuperação seja uma fonte importante de resiliência, um otimismo ingênuo sobre os desafios da vida pode ter o efeito oposto. O otimista ingênuo pensa que não encontrará obstáculos ao longo da caminhada e, assim, interpreta qualquer dificuldade como sinal de fracasso e incompetência. Na medida certa, precisamos cultivar um pessimismo realista com relação à vida e acreditar que qualquer projeto pessoal ou profissional que valha a pena esbarrará em dificuldades não previstas.
3. Pratique o autocuidado
Finalmente, podemos cultivar “pílulas de autoajuda” para aumentar nossos níveis de resiliência. Embora desenvolver padrões de pensamento mais resilientes seja importante, nenhuma mentalidade funcionará de maneira suficiente se não cuidarmos do nosso corpo e de nossas relações afetivas. O autocuidado e a manutenção de conexões afetivas fortes são fatores de proteção que nos ajudam a nos recuperar de adversidades, nos deixando mais adaptáveis e receptivos a situações adversas.
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O filósofo estoico Epiteto dizia que “os seres humanos são perturbados não por eventos, mas pelo significado que dão a esses eventos”. O estoicismo, aliás, é uma corrente filosófica interessante para nos guiar na jornada da resiliência.
Seus precursores, que inspiram muito as ideias que circulam na The School of Life, amavam e desfrutavam a vida sem deixar de ser realistas sobre a imprevisibilidade de viver. Eram incansáveis na busca pelo entendimento sobre como lidar com o caos, nos convidando a buscar por ordem, calma e razão, mesmo quando tudo ao redor parece difícil. Muito do que deveríamos fazer para viver melhor.
* Saulo Velasco é psicólogo, com pós-doutorado em psicologia experimental pela USP, e professor da The School of Life