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Meta para 2023: dormir bem pelo seu coração

Especialista alerta sobre elo entre fatores que atrapalham o sono noturno, como a apneia, e o maior risco cardiovascular

Por Edmo Atique Gabriel, cardiologista e cirurgião cardiovascular*
30 dez 2022, 09h28
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  • Engana-se quem pensa que o sono consiste apenas em um estado passivo na vida de um ser humano. Ele influencia e é influenciado por uma série de fatores fisiológicos e comportamentais. Nem o cérebro nem o coração param durante o sono, mas o repouso noturno é essencial para preservar esses órgãos vitais.

    Quero chamar a atenção de vocês especialmente para a relação entre o sono e a saúde cardiovascular. Distúrbios do sono, sobretudo a apneia obstrutiva, comprometem o organismo e elevam com o tempo o risco de problemas no coração e nas artérias. A apneia está ligada a características anatômicas e ao estilo de vida, sendo mais frequente em alguns biotipos e com o ganho de peso.

    Quem sofre desse problema, mais famoso pelos roncos, fica com um sono extremamente fragmentado e desperta muitas vezes com uma sensação de sufocamento. Ao longo dessa jornada, com pequenas pausas na respiração, ocorre uma redução na oxigenação do cérebro e de outros órgãos nobres.

    Esses sobressaltos, juntamente com o estado de hipóxia, deixam o organismo sob estresse. Há uma liberação significativa de hormônios como a adrenalina na circulação, impactando a pressão arterial e o ritmo dos batimentos cardíacos. Também existem reflexos na capacidade de queima da gordura corporal e na ação da insulina pelo corpo.

    A sobrecarga do coração não se restringe somente ao fato de o músculo cardíaco ter de trabalhar com maior intensidade. Estudos demonstram que ele também é alvo de substâncias inflamatórias liberadas em razão do estresse na parede do coração e dos vasos sanguíneos.

    Não é à toa que existem evidências ligando a apneia do sono ao aumento nas taxas de infarto, arritmia e derrame cerebral. Isso faz com que os distúrbios do sono sejam considerados fatores críticos na equação do risco cardiovascular.

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    No entanto, não é tão simples diagnosticar esse tipo de problema. Primeiro porque normalmente a pessoa passa anos sem sintomas, sem se dar conta dos roncos e das pausas na respiração, e julgando que aquilo é normal e faz parte de sua constituição física. Tem mais: muita gente não relaciona sintomas como cansaço diurno com um sono não reparador.

    É por isso que esses aspectos precisam ser avaliados nas consultas médicas.

    + LEIA TAMBÉM: Como desarmar a bomba da pressão alta

    Redução de risco

    Pesquisas acusam um elo entre níveis moderados de apneia do sono e insônia, por exemplo, e o maior risco de entupimento nas artérias e insuficiência cardíaca. Dormir mal, portanto, pesa em termos de morbidade e mortalidade cardiovascular. Ainda não está claro, porém, se nesse grupo de pessoas o tratamento dos distúrbios de sono é capaz de prevenir eventos cardiovasculares.

    Um ponto a destacar é a correlação estreita entre a apneia do sono e a obesidade. A redução do peso por meio de mudanças no estilo de vida pode ajudar a controlar a condição e suas repercussões, como o aumento da pressão arterial.

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    De acordo com o estudo HeartBEAT, o uso de CPAP, um aparelho que melhora a oxigenação durante o sono através de uma pressão positiva nas vias aéreas, pode reduzir a pressão e diminuir a ocorrência de AVCs. O desafio, apontam os autores da pesquisa, é a adesão ao dispositivo, que teria de ser utilizado regularmente ao menos 4 horas por noite. De qualquer forma, esse e outros trabalhos apontam melhora na qualidade de vida das pessoas em tratamento da apneia.

    O impacto do sono na saúde cardiovascular foi ainda mais valorizado recentemente, quando, em cima dos resultados de pesquisas, cientistas da Escola de Saúde Pública da Universidade Colúmbia, nos Estados Unidos, passaram a incluir um bom sono noturno na lista de itens decisivos para o bem-estar das artérias. Eis a lista completa:

    1. Parar de fumar
    2. Comer melhor
    3. Manter-se ativo
    4. Perder ou manter o peso
    5. Controlar a pressão arterial
    6. Baixar o colesterol
    7. Reduzir os níveis de açúcar no sangue
    8. Ter um sono saudável

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    Todos os fatores elencados acima contribuem de alguma forma na prevenção de um processo patológico potencialmente grave e letal, a aterosclerose. Trata-se do depósito de gordura dentro das artérias, algo que começa na infância e avança ao longo da vida com a adoção de maus hábitos.

    O trabalho de Colúmbia nos faz justamente rever o estilo de vida e repensar cuidados com a saúde. E isso inclui buscar um sono reparador. O interessante é que o descanso noturno não está isolado num mar de outros fatores preventivos. Exemplifico: pessoas que praticam exercícios físicos regularmente tendem a dormir melhor; e quem dorme melhor tende a ter mais disposição para se exercitar.

    Um sono saudável está, portanto, bastante conectado com os outros sete itens para a qualidade de vida listados pelos pesquisadores americanos. E ganha relevância se pensarmos na associação direta entre um sono insuficiente e o surgimento e agravamento de doenças como obesidade, diabetes, hipertensão, câncer, insuficiência cardíaca, depressão e Alzheimer.

    Quanto dormir? Um ciclo saudável costuma ter entre 7 a 9 horas de descanso no período da noite. E descanso ininterrupto, sem as pausas provocadas por apneia ou insônia.

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    Quando esse padrão se ajusta e se alia a outros hábitos equilibrados, ganhamos energia e uma proteção extra contra doenças. Uma ótima meta para 2023!

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    * Edmo Atique Gabriel é cardiologista e cirurgião cardiovascular e professor e coordenador do curso de medicina da Unilago (União das Faculdades dos Grandes Lagos), em São José do Rio Preto (SP)

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