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Neuroblastoma: o que é este tipo de câncer infantil e quais os tratamentos

Tumor que afeta filho de Bruno Pereira, indigenista assassinado em 2022 na Amazônia, é o terceiro mais comum em crianças e adolescentes

Por Larissa Beani
Atualizado em 11 jan 2024, 11h41 - Publicado em 10 jan 2024, 17h28
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  • Na primeira semana do ano, a antropóloga Beatriz Matos revelou que o filho Pedro, de 5 anos  fruto de seu casamento com o indigenista Bruno Pereira, assassinado em 2022 na Amazônia foi diagnosticado com neuroblastoma, um tipo de câncer infantil.

    O tumor se origina a partir de mutações em certas células nervosas e é o terceiro mais comum entre crianças e adolescentes, representando de 8% a 10% dos cânceres infantojuvenis.

    Ainda assim, trata-se de uma doença rara. Segundo o estudo que estimou a incidência na população norte-americana, de 11 a 13 em cada 1 milhão de jovens de até 15 anos recebem o diagnóstico anualmente.

    “O neuroblastoma é um tumor maligno originado de células nervosas que podem estar presentes em diversas partes do corpo durante a formação de órgãos e tecidos, principalmente nas glândulas adrenais e gânglios do sistema nervoso simpático”, explica Nathalia Halley Neves, oncologista pediátrica e especialista da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (Sobope).

    + Leia também: Cura do câncer infantil depende do diagnóstico precoce

    Os sintomas são inespecíficos e variam de acordo com a localização do tumor. O diagnóstico exige uma bateria de exames e biópsia. O tratamento depende de muitos fatores, como tamanho e grau de disseminação do tumor.

    O alto custo de algumas terapias é um desafio aos pacientes, familiares e médicos. Para o tratamento de Pedro, Beatriz precisou abrir uma vaquinha para arrecadar R$ 2 milhões para comprar doses de um único medicamento, o betadinutuximabe, que não está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS).

    A meta foi alcançada em três dias graças à mobilização de milhares de doadores.

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    A seguir, entenda o que é o neuroblastoma, como se manifesta e como pode ser tratado.

    O que é neuroblastoma

    O neuroblastoma é um câncer infantojuvenil que se forma a partir de mutações em células nervosas imaturas do sistema nervoso simpático — responsável por movimentos involuntários como os da respiração, dos batimentos cardíacos e da digestão.

    Ele aparece principalmente na primeira infância. Cerca de 90% dos casos ocorre entre crianças de até 5 anos.

    “Quadros que surgem antes dos 18 meses geralmente têm evoluções mais favoráveis. Em alguns casos, podem até desaparecer espontaneamente, sem tratamento”, explica Nathalia Neves.

    + Leia também: Pesquisa clínica: o motor da inovação e uma via de acesso contra o câncer

    O neuroblastoma é o terceiro câncer mais comum em menores de idade, atrás apenas de leucemias e tumores cerebrais.

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    É também um tipo de tumor que pode atingir qualquer parte do corpo que tenha tecido inervado pelo sistema nervoso simpático, principalmente glândulas e gânglios nas regiões do pescoço, tórax, abdômen, pelve e coluna.

    As glândulas adrenais, que ficam localizadas acima dos rins, costumam ser as mais comprometidas.

    As causas do neuroblastoma são desconhecidas e não há fatores de risco relacionados à doença — tampouco medidas preventivas.

    Sintomas do neuroblastoma

    Os sinais da doença são inespecíficos, variando conforme a localização do tumor e seu estadiamento.

    Na fase inicial, o neuroblastoma pode ser assintomático. A depender da localização e do estágio do tumor, a lesão pode ser apalpada, causar dores e outros sinais.

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    Entre os principais sintomas abdominais estão o aumento da barriga, a dispepsia (sensação de “estar cheio”), a redução de apetite e também problemas para urinar e defecar.

    Já manifestações torácicas podem incluir falta de ar, tosse e dificuldade para engolir.

    Outros sinais são o aparecimento de hematomas, fraqueza, febre, anemia, perda de peso, hipertensão, dormência nos membros e dor nos ossos (quando o tumor já se espalhou para essas estruturas).

    + Leia também: Câncer: precisamos curar as crianças desse mal milenar

    “Quase 50% das crianças levadas ao diagnóstico já apresentam sinais de disseminação”, estima Nathalia Neves, que é coordenadora do Protocolo Brasileiro de Neuroblastoma. “Um sinal específico pode ser o arroxeamento ao redor dos olhinhos, que costumamos definir como ‘olhos de guaxinim’.”

    Natália Brenneken Duarte Ambar, do Instituto de Oncologia Pediátrica do Hospital do Graacc (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer), reforça que os sintomas são mesmo muito variados. “Até por isso, pais e responsáveis devem se atentar a quaisquer manifestações muito persistentes, cuja causa não tenha sido desvendada”, alerta.

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    Diagnóstico

    Ele pode começar com avaliação física, de acordo com os sintomas apresentados. A investigação geralmente continua com ultrassons, que são capazes de identificar massas anormais no corpo da criança. Para maior detalhamento do tumor e de sua localização, são solicitadas tomografias ou ressonâncias.

    Dosagem de hormônios por exames de urina e de sangue também podem fazer parte do diagnóstico e ajudar a avaliar características da lesão.

    Exames da medicina nuclear, como o MIBG e o PET scan, são necessários para classificar a extensão da lesão, identificando se ela está concentrada em um único ponto ou se já se espalhou por outras partes do corpo.

    O diagnóstico é confirmado por biópsia, que pode também ajudar a revelar características moleculares e teciduais da doença. O conjunto desses exames é essencial para determinar as melhores opções terapêuticas para a criança.

    O diagnóstico precoce é a nossa principal arma. Ele aumenta a chance de cura e reduz a necessidade de tratamentos mais complexos e intensos”, destaca Viviane Sonaglio, líder do Centro de Referência em Tumores Pediátricos e chefe do setor de Pediatria do A.C.Camargo Cancer Center.

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    Segundo ela, tão importante quanto o diagnóstico precoce é conseguir fazer as outras avaliações subsequentes que ajudam a definir o tratamento, porque o câncer infantil é uma doença agressiva e de rápido avanço.

    + Leia também: A biópsia líquida e a caça ao câncer pelo sangue

    Tratamentos para neuroblastoma

    A escolha das terapias depende do tamanho, localização e disseminação do neuroblastoma.

    Tumores de baixo risco podem desaparecer espontaneamente. Outros, caso identificados em estágio inicial, são retirados por cirurgia, apenas.

    Já lesões que não são completamente removidas cirurgicamente frequentemente demandam químio ou radioterapia. A quimioterapia também pode ser utilizada antes da cirurgia, para diminuir o tumor e facilitar a operação.

    Casos mais graves podem precisar recorrer a transplante autólogo de medula óssea (quando o doador é o próprio paciente), imunoterapia e terapia-alvo.

    “O tratamento do neuroblastoma é talvez o mais multimodal que existe na oncologia pediátrica”, avalia Neves, da Sobope. “Todas essas fases de tratamento só podem ser realizadas e ter sequência com a resposta do tumor à fase anterior.”

    + Leia também: As inovações no tratamento de um câncer em crianças e adolescentes

    Tratamento de alto custo

    Um dos tratamentos indicados para casos mais avançados de neuroblastoma é a imunoterapia com betadinutuximabe, medicação que será usada no caso de Pedro, filho de Beatriz Matos e Bruno Pereira.

    “Ele é um anticorpo monoclonal com ação anti-GD2. Ou seja, é um medicamento que combate diretamente a expressão de um antígeno, chamado GD2, muito presente em neuroblastomas”, explica Natalia Ambar, do Graacc. “É uma medicação indicada apenas para pacientes de alto risco, que já passaram por outras terapias (inclusive pelo transplante de medula) e ainda apresentam sinais da doença.”

    Essa imunoterapia é responsável por aumentar em até 20% a chance de sobrevida de crianças com neuroblastoma de estágio 4, o mais avançado. Comercialmente chamado de Qarziba, ela foi aprovada nos Estados Unidos em 2015 e, na Europa, em 2017.

    No Brasil, o medicamento já foi registrado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas ainda não é fornecido pelo SUS ou por planos de saúde. Isso obriga familiares a organizarem financiamentos coletivos para importarem o produto.

    Cada dose conta com apenas 4,5 ml e é vendida por cerca de R$ 88 mil reais. O tratamento completo dura meses, o que torna a conta milionária.

    Para reduzir custos, pesquisadores brasileiros estão estudando uma forma de diminuir a dose necessária ao tratamento, sem afetar os resultados.

    A intenção dos médicos do Hospital Israelita Albert Einstein e da Universidade de São Paulo (USP) envolvidos no estudo da droga é diminuir a dose para 20% do que é usado atualmente. Os pesquisadores, porém, não têm previsão de quando os resultados devem ser publicados.

    + Leia também: A luta pelo acesso a medicamentos continua no Brasil

    Apoio às famílias

    Após arrecadar a quantia de R$ 2 milhões para o tratamento do filho em apenas três dias, Beatriz Matos encorajou os colaboradores a continuarem doando para a causa.

    “Pedrinho dará continuidade ao tratamento do neuroblastoma e você pode continuar ajudando as crianças que estão na mesma luta”, escreveu, no site da vaquinha, a mãe, que é diretora do Departamento de Proteção Territorial e de Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato do Ministério dos Povos Indígenas.

    “Compartilhe e doe para o Instituto AnaJu, uma ONG dedicada a assistir e amparar crianças com câncer, especialmente o neuroblastoma, proporcionando a elas e suas famílias um importante suporte durante toda a jornada do tratamento”, seguiu Beatriz, no mesmo texto.

    A luta contra o neuroblastoma passa por vários percalços. Um dos problemas mais comuns relacionados ao diagnóstico é a falta de radiofármacos para exames de medicina nuclear.

    “Muitas vezes não podemos fazer o MIBG por causa disso. É um problema que constantemente nos impede de classificar o avanço do câncer infantil de forma adequada em todo o país”, afirma Sonaglio, do A.C.Camargo.

    O tratamento da doença, além de custoso, impõe limitações e mudanças aos pacientes.

    “Muitas famílias precisam mudar de cidade para encontrar tratamento, as crianças não conseguem frequentar a escola e muitas mães, principalmente, acabam deixando os empregos para acompanhar o tratamento”, relata Ambar, do Graacc.

    “A criança passa a permanecer muito mais tempo em ambientes hospitalares. Por isso, o médico e toda a equipe de saúde também trabalham na minimização do sofrimento durante esse ciclo, ajudando na ressignificação de sentimentos e nos momentos que estão por vir nessa longa jornada”, reflete Neves, da Sobope.

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