Durante a pandemia, vimos um aumento significativo de problemas relacionados à saúde mental no Brasil e lá fora.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou, em outubro de 2021, seu novo Atlas de Saúde Mental, sinalizando uma falha global em fornecer às pessoas os serviços de assistência psíquica e emocional de que necessitam, mesmo com a elevação do investimento nesse setor em diversos países.
Sabemos que a Covid-19 deixou as pessoas mais isoladas e amedrontadas. Por isso, além desta pandemia, observamos outra, formada por um número crescente de casos de ansiedade, depressão e déficit de atenção. O atlas da OMS mostra que há um longo caminho a percorrer para garantir que todos tenham acesso aos cuidados adequados à saúde mental.
O Janeiro Branco é o mês de conscientização sobre as questões do bem-estar emocional. E, coincidentemente, o dia 23 de janeiro é dedicado internacionalmente à medicina integrativa, que convoca práticas complementares para o tratamento de doenças, inclusive as psíquicas.
A ideia é que, aliados aos medicamentos e à psicoterapia, esses recursos deem suporte ao tratamento, elevando a qualidade de vida, minimizando efeitos colaterais dos remédios e permitindo até mesmo a redução ou suspensão das doses com o tempo se o médico julgar pertinente.
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Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Oxford, na Inglaterra, com mais de 60 mil pessoas, e publicado na conceituada revista médica The Lancet, evidencia que 20% dos pacientes diagnosticados com Covid-19 e sem nenhuma doença psiquiátrica previamente diagnosticada apresentaram quadros como ansiedade, depressão e insônia de 14 a 90 dias após a infecção.
Os pesquisadores também observaram que as pessoas que já tinham um transtorno psiquiátrico prévio tiveram 65% mais chances de adoecerem pelo coronavírus. Esses dados corroboram a ideia de que o bem-estar mental repercute na saúde física, e vice-versa. Assim, precisamos tratar tanto a mente como o corpo.
Buscar o alívio do estresse e da ansiedade é importante inclusive porque eles são gatilhos para o aparecimento ou piora de doenças físicas. Nosso cérebro nem sempre consegue distinguir a realidade da imaginação. Daí que pensamentos negativos estimulam o organismo a liberar substâncias que afetam os sistemas hormonal e imunológico.
Tem sido crescente a procura por práticas integrativas, sobretudo meditação, acupuntura e aromaterapia, para lidar com os dilemas e problemas emocionais.
Em um estudo americano realizado com mulheres, por exemplo, a acupuntura reduziu a ansiedade e a depressão logo nas primeiras sessões em 43% das voluntárias avaliadas e, oito semanas depois, mais da metade não relatava mais as doenças.
Sabemos que a acupuntura atua sobre o sistema nervoso, estimulando a produção de neurotransmissores e hormônios com função relaxante e analgésica, além de melhorar a circulação e a oxigenação dos tecidos.
O método também auxilia a diminuir os níveis de cortisol e adrenalina, reduzindo o estresse e a frequência cardíaca. É praticamente livre de efeitos colaterais, desde que seja feita por um profissional habilitado.
Outra modalidade que ganha destaque nesse contexto é a aromaterapia. Alguns tipos de óleo essencial, quando inalados, atingem em segundos a região do cérebro responsável pelo controle das emoções, o sistema límbico.
Diversos artigos reunidos na Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos retratam efeitos positivos como melhora da ansiedade, do sono, do humor e das dores.
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Um estudo alemão comparou o óleo essencial de lavanda ao lorazepam, medicamento de venda controlada, no tratamento da ansiedade generalizada e concluiu que ambas as abordagens foram equivalentes.
Outra pesquisa, essa do Irã, constatou que o óleo essencial de laranja aplacou a ansiedade em crianças. De forma geral, os óleos cítricos têm potencial para acalmar os ânimos e o estresse.
Existem outras práticas integrativas capazes de ajudar a recuperar o bem-estar. Ioga, meditação, homeopatia… O ideal é sempre procurar médicos e demais profissionais capacitados.
Então aproveite o início do ano para repensar sua rotina, olhar para si e, se for preciso, planejar mudanças. Afinal, o que você tem feito pela sua saúde mental?
* Ingrid Teixeira é médica, especialista em pediatria e medicina integrativa, com pós-graduação em medicina tradicional chinesa pela Universidade Federal Fluminense (UFF)